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Dia de Zumbi e da Consciência Negra: lembrar, refletir, avançar

Temos muito para refletir, lutar e resistir às sanhas da burguesia nacional com suas origens escravocratas e de exploração dos negros. Hoje, para a classe trabalhadora o Dia Nacional da Consciência Negra está acima de ser apenas um feriado.

Por Severino Lourenço*

O mês que abriga o Dia da Consciência Negra já tem registrado, neste ano, mais uma cena emblemática – e deplorável – do racismo à brasileira. É o vídeo que flagra o jornalista William Waack fazendo declarações preconceituosas durante um intervalo do “Jornal da Globo”. Embora a gravação seja de 2016, seu conteúdo racista só veio à tona em 8 de novembro passado.

Com a imensa reação negativa – sobretudo nas redes sociais –, a TV Globo anunciou o afastamento de Waack, “até que a situação esteja esclarecida”. Mas episódios como este, às vésperas de outro 20 de Novembro – Dia Nacional de Zumbi e da Consciência Negra, mostram que ainda é preciso evocar a memória de Zumbi dos Palmares e o legado do maior quilombo de resistência à escravidão no Brasil.

O Dia da Consciência Negra, celebrado em centenas de municípios brasileiros desde a década de 1990, ganhou força com a Lei 10.639/2003, que trata do ensino da história e cultura afro-brasileira e africana, valorizando a cultura negra na formação da sociedade brasileira. Cinco anos depois, a Lei 11.645/2008 tornou obrigatório o ensino dessas disciplinas nos ensinos fundamental e médio. Já a Lei 12.519/2011, sancionada pela presidenta Dilma Rousseff, instituiu oficialmente o Dia Nacional da Consciência Negra.

Neste ano, a ONU lançou a campanha “Vidas Negras”, para conscientizar a sociedade sobre as consequências da discriminação racial. Uma dessas consequências é a violência contra os jovens negros no país. A cada dez pessoas assassinadas na faixa etária entre 15 e 29 anos, sete são negras.

As políticas públicas e as ações afirmativas existentes são importantes, mas ainda insuficientes para dar continuidade à política de combate a essa triste realidade. No País, por regra, a morte violenta de um jovem negro choca menos do que a morte de um jovem branco. Outro exemplo é o tratamento dado pelo próprio Estado por meio das batidas policiais, a chamada “filtragem racial”, em que o cidadão negro sempre é suspeito.

No mercado de trabalho, além das dificuldades já existentes, a cor da pele também pesa contra. Muitos candidatos negros já sofreram no emprego anterior algum tipo de discriminação. Segundo a consultoria Etnus, a falta de qualificação (43%), o racismo (34%) e o não domínio da língua inglesa (31%) são as principais dificuldades apontadas por entrevistados para a entrada no mercado de trabalho.

Outro desafio a ser enfrentado pelos trabalhadores negros é a terceirização escancarada que foi sancionada pelo golpista do presidente usurpador Michel Temer.

A desigualdade racial é igualmente expressiva na categoria metalúrgica, conforme aponta o estudo “As Faces da Indústria Metalúrgica no Brasil” (Dieese/2015). Com base na remuneração média dos trabalhadores do setor em 2013, o levantamento denunciou que o racismo é usado “como estratégia para diminuir os custos da força de trabalho”, assim como o sexismo e o machismo: “A mulher negra, neste ramo, recebia cerca de 41,8% a menos que o homem não-negro. No segmento aeroespacial e de defesa, essa diferença chegava a 61,4%”.

Outro desafio a ser enfrentado pelos trabalhadores negros é a terceirização escancarada, que foi sancionada pelo governo golpista do presidente Michel Temer, tal como a reforma trabalhista. A nova legislação entrou em vigor coincidentemente no mês de novembro, transformando os trabalhadores em verdadeiras mercadorias nas mãos de senhores e impondo aos terceirizados negros as tarefas mais árduas e perigosas: salubres ou insalubres, penosas, periculosas, sem os devidos equipamentos de proteção e segurança e com seus direitos aviltados.

Os trabalhadores negros passam a ser mão de obra alugada e negociada por empresas. Como disse o sociólogo Ricardo Antunes, “na escravidão o escravo era vendido e na terceirização o trabalhador será alugado”. E completo: será alugado ou negociado por agenciadores, especuladores e terceirizadores.

Temos muito para refletir, lutar e resistir às sanhas da burguesia nacional com suas origens escravocratas e de exploração dos negros. Hoje, para a classe trabalhadora o Dia Nacional da Consciência Negra está acima de ser apenas um feriado, embora ainda não nacional. Ele nos leva a refletir que o racismo, de fato, existe no Brasil não mais de forma sorrateira e romântica (“mãe preta” e “pai João”), mas, sim, de modo explícito e agressivo.

*Secretário de Combate ao Racismo da FITMETAL e secretário do Setor Eletroeletrônico do Sindicato dos Metalúrgicos do Rio de Janeiro.

Publicado originalmente no site da Fitmetal

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