Racismo Institucional: A máquina mortífera do século
*por Mônica Cústódio
Que a luta de classes está exposta, e o recrudescimento nas relações sociais estão colocados todos sabemos. Que a prática do racismo e sexismo é uma arma destacada neste cenário também. Mas precisamos estar atentos ao racismo institucional, que é a ferramenta letal e sólida, e o maior instrumento de guerra contra a população negra de toda história.
No mês da Consciência Negra, em que as Mulheres Negras Marcham Contra a Violência, o Racismo e Pelo Bem Viver, nos deparamos com mais um ato de guerra contra a população negra, contra a juventude negra, e contra as mulheres negras que sofrem triplamente a violência contra a mulher. Nos deparamos com a morte brutal de cinco jovens negros e suburbanos. Mais uma vez com a presença do auto de resistência e do racismo institucional na ponta do fuzil daqueles policias, que dispararam 111 tiros contra cinco jovens desarmados e felizes. Felizes pela conquista ao estudo, ao primeiro emprego, o primeiro salário de um jovem aprendiz.
A vida da juventude está em pauta! O futuro da nação está sendo ceifado agora. Temos que ir para as ruas em defesa dos direitos sociais e trabalhistas, mas também pelo direito a vida, e o direito de viver em paz independente do local que podemos pagar para morar. Temos que ter também uma bandeira para além dos direitos sociais e trabalhistas: precisamos sustentar a PL 4.471, que também é contra ao Auto de Resistência e uma bandeira de luta contra esse processo de genocídio de nossa juventude de maioria negra e pobre.
A polícia brasileira é a que mais mata no mundo, uma verdadeira máquina de guerra segundo relatório da Anistia Internacional. Segundo a organização, em 2014, 15,6% dos homicídios foram feitos por policiais. De acordo com a anistia os policiais atiram em pessoas que já se renderam, que já estão feridas e sem uma advertência que permitisse que o suspeito se entregue, uma verdadeira covardia, um massacre. As vítimas da violência policial no Rio, entre 2010 e 2013, eram 99,5% homens. Quase 80% das vítimas eram negras e três em cada quatro, 75%, tinham idades entre 15 e 29 anos. O levantamento se concentrou na Zona Norte do Rio de Janeiro, que inclui a Favela de Acari
As Olimpíadas deverão acontecer em 2016, mais as faxinas étnicas e sociais começaram com as obras, que estruturarão a cidade para o evento já começaram. Nesse processo ocorreu a remoção de centenas de famílias e empresas, dando espaço a especulação imobiliária, como acontece na área do porto, onde se localiza a Pequena África, no entorno da Pedra do Sal, o primeiro Quilombo Urbano do Brasil, ao lado Cais do Valongo. Esse processo também reduz a participação dos trabalhadores da indústria no centro de decisão política e econômica da cidade, cartão postal do país. Traduzindo assim uma nova cidade, uma cidade da indústria do turismo. E é nesta cidade que nós jovens, negros e suburbanos não temos espaço.
Desta forma nós da CTB, que somos parte dos movimentos sociais organizados, entendemos ser este mais um ato do Estado constituído em violência contra a Juventude Negra, mas também contra as mulheres nestes 16 dias de Ativismo Pelo Fim da Violência Contra a Mulher. São essas mães, mulheres negras de favelas/comunidades, suburbanas, que sofrem violência no seu cotidiano, anos a fio.
É neste sentido que a CTB defende a CPI da violência contra a população jovem, negra e pobre. A defesa da CPI, e as cinco emendas constitucionais que tratam desde a elaboração de um plano nacional de Enfrentamento ao Homicídio de Jovens até a desmilitarização das polícias. Defendemos a estruturação de políticas públicas em educação, cultura, profissionalização, saúde, lazer, assistência, e acesso à Justiça para nossa juventude.
Pelo direito à vida, pelo direito de viver em paz! #juventudeviva
*Mônica Custódio é Secretária Nacional de Promoção à Igualdade Racial da CTB e diretora do Sindimetal-Rio.